domingo, 30 de maio de 2010

Os sentimentos de Beatriz


O sol começava a nascer quando o seu despertador tocou. Mais um dia de vida iniciava-se. Beatriz já estava acostumada com a rotina e, mesmo em meio a reclamações, jurava amar o que fazia. Enquanto escovava os dentes pensava no que vestir, pois a pressa era uma de suas características mais marcantes. Após ter feito a escolha foi em busca das peças, as quais não estavam no armário. Respirou fundo e começou a procurar, tentando conter a raiva, a roupa que queria. Acabou encontrando- a, mas não na gaveta, e sim no corpo de sua irmã, que se admirava no espelho. “Posso usar?” perguntou ela “Já está usando, né?” pensou Beatriz, balançando afirmativamente a cabeça como resposta. Por mais óbvio que pareça, não era o egoísmo que a impedia de fazer aquilo. Era outro sentimento, que ela mantinha por tudo e por todos. Aquele foi um sinal para o que estava por vir no decorrer do dia.
Por ser muito comunicativa, Beatriz conquistava rapidamente novas amizades. Era instantâneo. No trabalho sabia dividir o lado pessoal do lado profissional, sendo implacável e exigente em alguns momentos. Mais do que colegas de trabalho, ela fazia amigos. E, por serem amigos, tinham uma importância enorme em sua vida. Na semana anterior o seu setor misturou-se com outro aumentando o número de pessoas na mesma sala. Com o passar do tempo, os novos componentes ficaram íntimos dos velhos. Beatriz observou naquele dia essa mudança, tendo a mesma sensação que ferveu em seu coração de manhã, no episódio das roupas. Respirou fundo, controlou-se e prosseguiu sem deixar transparecer o que acontecia em sua alma.
Após a jornada de trabalho vinha a faculdade. Local que ultrapassava os limites do estudo: lá ela relaxava e fazia amigos. Mais pessoas que, com imenso prazer, guardava em seu coração. Quando entrou na sala não viu ninguém. Mais tarde, por meio de uma ligação, ficou sabendo que suas amigas não viriam. Cada uma foi para um lugar diferente, restando para Beatriz permanecer sozinha. Teve, mais uma vez, que controlar seu sentimento “o que diabos há comigo?”, perguntava-se sabendo que não teria resposta.
Beatriz tinha o hábito de refletir sobre o dia antes de dormir. E ela tinha muito o que refletir. Aquele tinha sido um dia difícil. Sabia que seus amigos não eram suas propriedades, mas não saberia o que fazer se, algum dia, perdesse suas jóias. Para algumas pessoas aquilo poderia ser exagero, mas era apenas medo “Um dia eu vou aprender a lidar com isso” pensou. Após refletir, sorriu levemente e adormeceu, sabendo exatamente que seu erro era perdoável. Era o erro de amar.

*Juliana Tavares

domingo, 23 de maio de 2010

Olhe mais fundo


Solange pegava todos os dias o mesmo metrô, aproximadamente no mesmo horário, e ficava em pé no vagão sempre no mesmo local. Olhava sempre para frente, para a janela, onde via diariamente os mesmos prédios cinza, os carros parados no trânsito e as pessoas indo trabalhar.

Nesse dia, estranhamente o céu estava diferente. O azul se misturava com o amarelo do sol de tal forma, que até Solange percebeu. A luz penetrou a janela e refletiu em seu relógio, fazendo o reflexo passear por entre as pessoas que estavam ali. Ela acompanhou esse rápido movimento e se surpreendeu. A senhora sentada em sua frente estava cabisbaixa, tinha o olhar triste e distante, pensava em algo não muito agradável. O rapaz ao lado também tinha o mesmo olhar distante, mas sorria, mesmo estando naquele vagão abafado e barulhento. Estava feliz. Um homem estava com a namorada, observando ela falar sobre a amiga da amiga que ficou com o vizinho na balada. Apesar da mão colocada carinhosamente na cintura da moça, o olhar do rapaz viajava, e com certeza ele não fazia ideia do assunto daquela conversa. O reflexo percorreu várias pessoas e ela observou cada rosto, e como as pessoas pareciam falar apenas com seus olhos e expressões. Pela primeira vez, Solange percebeu quanta vida existia naquele vagão.

O dia seguiu, assim como a vida, e o céu nunca mais reproduziu aquela mesma cor, mas Solange nunca mais pegou o metrô olhando para aquela janela suja e cinza.


* Talita Cruz

sábado, 8 de maio de 2010

Você é livre?


O conceito mais simples que temos de liberdade é o ato de poder ir e vir. Indo um pouco mais além, na nossa cultura uma pessoa que tem liberdade não tem um relacionamento com ninguém, na linguagem popular está “na pista pra negócio”. Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que alguém que reúne essas características é livre? Não necessariamente..
Na sociedade, existem certos paradigmas. Só para citar um exemplo: uma mulher nasce para, em um primeiro momento estudar, depois arrumar um bom emprego, conhecer um homem, casar e ter filhos. O homem também nasce para estudar, arrumar um bom emprego, constituir uma família e viver com sua esposa muitos anos, até a sua morte. Esse é o destino de todos nós. Mas, e se um homem nasce, estuda e prefere viajar pelo mundo conhecendo lugares e vivendo de aventuras, até o dia da sua morte? O que a grande maioria diria é “ele é louco”, ou “ele é estranho”, e as mentes mais precárias chegariam a dizer “ele é gay”. Não, definitivamente ele não seria incluso no que é considerado “normal”. Esse homem é livre? Perante a lei sim, mas ele nunca terá a liberdade de acreditar que é comum, porque a grande maioria dirá que não.
Uma mulher que não deseja ser mãe? Não é normal. Um universitário que gasta dinheiro com um curso em que o diploma não vale nada? Não é normal. Alguém que abandona um emprego estável e decidi se mudar para uma praia e vender água de coco? Nossa, o que é isso, um ET?
Todos teoricamente livres, todos presos pelo julgamento da sociedade. E você, se considera totalmente livre?


*Talita Cruz

 
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